sexta-feira, janeiro 04, 2008

A espera pelo outro dia

Sem nenhuma razão específica, há momentos em que a solidão brota. Parece espreitar a alma, como as sombras que percorrem os vãos das casas, das florestas, dos postes na rua. Num mínimo momento de desatenção, lá vem ela, rápida, sorrateira, a lembrar que tudo aquilo que passou era ilusão. A avisar que a partir daquele instante, apenas a realidade nua e crua fará parte da sua rotina. A mostrar que a vida segue o seu rumo, e mesmo que a vontade de mudar seja grande, a força da solidão pretende tornar a vida imutável, como um motor perpétuo, sem previsão de acabar.

Deitado na cama, jogado como uma toalha, como daqueles boxeadores que perdem a batalha, penso vagamente em tudo o que passou. Desisto. Abro os olhos. Tento mexer a cabeça. Não consigo. Lá se vai mais meia hora a perdida a pensar no que se foi, ou mesmo no desconhecido. Pergunto, pra quê?

Não entendo nada da vida, e Deus me livre entender. Tudo tão complexo e amarrado. Quanto mais se tenta, mais se perde, entre as constatações de filosofias superadas a cada minuto. Ao invés da cama, a saída parece estar no sofá. A televisão, no automático, se movimenta a jogar uma parafernália de imagens, enquanto o som boceja palavras sem nexo. Queria estar longe, mas aqui estou eu, sem coragem para fugir. Do que adiantaria, se o problema maior está aqui, entrecortado entre a minha razão e o meu coração.

Pôr do sol - No final da tarde, a luz estranhamente entra com uma intensidade, a tentar responder as angústias. Já era tempo. Os raios descem devagar. As nuvens ajudam a esconder a tornar o céu alaranjado, mesclado com o azul do infinito. A busca de alguma resposta, para a insensatez de viver, ou da burrice de tentar entender a vida. E mais um dia se passa, sem que a resposta venha. Resta apenas tentar enxergar. Da sacada do prédio de três andares, fico a deslumbrar o espetáculo, até arder os olhos, como a perguntar. “Como pode este espetáculo acontecer?”.

Provisão divina. Força da natureza. Invenção humana. Loucura etérea. Os significados para aquele momento interferem diretamente na alma, a esconder a luz, a alarmar o início do recolhimento, e da solitude. Uma angústia ressoa no ar, ao balançar das folhas das árvores, dos fios elétricos e telefônicos, e principalmente, no assobiar desesperado das aves, que ao perceberem o cruel destino, se juntam e fogem, do inevitável. Debruçado desta vez sobre o parapeito da varanda, a observar os efeitos melancólicos do pôr do sol, resta apenas abaixar a cabeça. Sem asas para voar, fios para contorcer, e galhas enormes, para mostrar resignação. Somente resta, sem saída, esperar o outro dia.

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