terça-feira, agosto 29, 2006

Só pagando para ver!!!


"Por quê não?" Não quis nem saber de esperar o carro do jornal. Já eram mais de 22h00. Desliguei o computador, no qual fiquei sentado por horas a fio, guardei as minhas coisas no armário e fui embora. Porque não? Já estava tudo acertado. É só aparecer. Às vezes parece ser bem dificil tomar uma decisão. Depois de tudo acertado, mochila nas costas, lá vai eu pensando em chegar atrasado, para que o ônibus saísse, e eu não fosse para Caldas Novas. Coisas da minha cabeça. Resolução nº 1: Parar de me preocupar com tudo.

Já dentro do ônibus que ia direto para Caldas, pensei como a gente fica preocupado à toa. Às vezes, quase sempre, digo que no final tudo vai dar certo. Só que nem sempre consigo seguir esta premissa. Uma manhã de sábado nublado. Acordei cedo. Estava a observar quem passava na T-63. Se eu não estivesse aqui, à esta hora estaria na cama rolando de um lado para o outro. E com raiva de não ter mais sono em pleno sábado. Durante todo o dia, iria assistir a programação da Globo de sábado, incluindo o casal Angélica e Luciano Huck. Em suma: só de viajar já estou no lucro. Resolução nº2: Nunca recusar uma viagem, principalmente quando for tudo na faixa.

"Sr, o seu cartão. O sr. precisa do cartão para tudo o que for consumir dentro do park. Não o perca", avisa o recepcionista durante o check in. Passo o cartão para entrar no apartamento 6077. Até entender a logística, foram alguns segundos. Mais demorado, foi para conseguir acender as luzes. Até me tocar que "tudo" realmente dependia do bendito cartão. Acendidas as luzes, fui para o quarto. TV grande com canais por assinatura, cama de casal, lençóis e toalhas limpos, ar condicionado, varanda, frigobar lotado de bebida. No fim da estada, fiquei com vergonha até de perguntar o preço. Resolução nº3: Quero ganhar dinheiro.

"- Que água quente!! Como vocês conseguem ficar aqui dentro. - Por isto que chama Rio Quente, Hebert". Mas nestes casos a gente só acredita vendo. Quando eu sai da água, entendi porque as pessoas não saiam nem para comprar cerveja. Mesmo assim ainda prefiro as águas gélidas do Rio de Ondas. Acorda até bêbado. No mais, uma mulher com a voz stereo surround tentava animar a galera. O melhor era a narração da prova de natação disputada entre os botinhos e os hóspedes. Coisa trash!! Até de baixo da água, ouvia a mulher gritando. Faltou apenas aquela ginástica coletiva dentro da água. Imagino aquelas águas nos feriados, ou nos Caldas fest da vida. Resolução nº4: Quem tá na água é para se molhar. Aproveite!!

Voltando para casa, morri de rir das histórias que os outros jornalistas contavam. "Como podem trazer o Oscar para Goiânia, sem antes oferecer alimentação, moradia para as pessoas carentes", retrucava a estudante de jornalismo para um assessor de comunicação do Governo de Goiás. "Vocês inauguraram o Oscar e ele ainda nem está funcionando", continuava a moça, mais irritada. Ao menos ela é boa de suspense. Só depois de alguns minutos, descobriram que ela se referia ao Centro Cultural Oscar Niemayer. And the Oscar goes to... Resolução nº 5: Rir é o melhor remédio.

Trilhas: Goiânia-Rio Quente e Hot Park

sexta-feira, agosto 25, 2006

Vida mais ou menos!!!!

Puxa!! Que formigueiro é esse? Pensei.
-Também custa R$ 0,45, respondeu uma garota ao lado.
-Que sincronicidade. Mas isto já virou pensamento comum, retruquei comigo mesmo.
Depois não vi mais a garota. Resolvi esperar um pouco mais na plataforma, de onde desci de um eixão igualmente lotado. Agora ele se dirige ao Setor Universitário. Não precisa falar que quase fiquei dentro dele, encostado naquela bola que divide os vagões. Parei para pegar o circular 401 em direção à T-7, de onde andaria até à av. 85, onde está o meu curso de inglês.

-Falow, Hebert. Vou descer por aqui.
Este foi o Thiago se despedindo. Ele ia pular a plataforma para pegar o ônibus da Vila Brasília, ou o Flamboyant-Praça A, dependendo da conveniência e de ver qual está menos cheio. Até porque nesta hora, não existe ônibus menos vazio. Puxei o celular do bolso. Eram 18h27. Agora a fila da plataforma do eixão começa a esvaziar. Só que vem outro atrás para despejar mais uma galera. É melhor eu descer logo esta plataforma. Corri, trombei com algumas pessoas. E quase levei uma “caixada”. Um “tio” na minha frente segurava uma caixa na cabeça, pronto para cegar um, e não tava nem aí para mais ninguém. Ufa!! Consegui me livrar dele.

“Graças à Deus, o circular estava ali, paradinho no ponto, pronto para eu subir. “Vou chegar cedo no inglês. Ao menos um dia”, pensei novamente. “Puxa, é verdade. Kra, como é difícil a gente prestar atenção nos outros. Está tudo tão corrido. Vou escrever no meu blog falando de mim mesmo. Por exemplo, desta canseira que é pegar este ônibus na praça A e ninguém fala nada. Mas a R$ 0,45, também. Mesmo assim, as pessoas precisam reclamar”.

Agora o ônibus começa a sair, daquele jeito, de quem está carregando uma boiada. Se o povo não se segura. Não sabe nem onde vai parar. Ele atravessa a praça. Passa dois carros xingando. “Mas se a gente pôr na balança, o ônibus tem mais gente. Ele precisa passar mais rápido, mesmo que de forma imprudente. Fui egoísta agora. Merda, to bem embaixo deste xororo. Rádio Terra, ninguém merece. Eu devia parar com esta besteira de especialização e juntar dinheiro pra comprar um carro. Ou uma moto. Olha aí, a mulher dirigindo. Nem tem tanto perigo. Caraca, quase que a mulher a moto foi jogada longe. Ao menos ela estava de capacete”.

Entrando na Assis Chateaubriand, continua o cornelejo, desta vez é o Edson e Hudson. Mudei de idéia, pegar ônibus nem é tão ruim. Sobrou até uma vaguinha. "A senhora quer sentar?", ofereci. "Não, já vou sair agorinha, muito obrigada". Merda, vou chegar cedo no inglês. Sou jornalista, gosto de chegar na hora, em ponto, nem cedo, nem atrasado. Agora vou ter que esperar. Devia acontecer uma sincronicidade legal aqui comigo. Melhor não, depois eu sou assaltado. Deixa do jeito que está. Sai do ônibus em frente ao fórum. Ando, normal, mas como sempre apressado. Pra quê, não to atrasado, me pergunto. Cheguei. Nossa tenho dois textos pra entregar amanhã. Que merda!!, penso ao entrar pela porta da escolinha de inglês.

Trilhas: Eixo Anhannguera - Cascavel à Praça A
Circular 401 - da praça A até o ponto do Fórum

domingo, agosto 20, 2006

Entre o sonho e a realidade


- Que dia decidiu ser jornalista?, perguntam.
- Não sei!! Talvez vendo algum jornalista conversando com uma celebridade, alguma série de reportagens especiais que denunciava a fome na Etiópia. Há também aqueles que se arriscam as suas próprias vidas nas guerras, ou embaixo de um bendito muro que caiu. Talvez eu queira uma profissão sem rotina, sem marasmos, e que ajude muito as pessoas (olha a pretensão!!). Eu também queria viajar muito pelo mundo.

Como é ser jornalista?
É uma profissão técnica, no que diz respeito ao dia-a-dia burocrático de burilar as informações, e principalmente em sua checagem. No final, precisa-se descobrir o que é mais relevante. Colocá-las em ordem de importância. A linguagem não pode ser complicada. É para o maior número de pessoas ler. Resolvem-se alguns pepinos com fotógrafos, diagramadores. O editor checa. E pronto! Lá está a página com a sua matéria assinada. Dependendo do processo da empresa, isto pode ser feito em até uma hora. Qual a garantia de que as pessoas lerão estas informações? Nenhuma, talvez.

A primeira resposta era de uma auto-entrevista, enquanto perambulava com a minha bicicleta pelas ruas e vielas de Barreiras, aos 16 anos de idade. Naquela época, era cursinho à noite, inglês à tarde, escola de manhã. No fim de semana, algum vídeo de locadora para descontrair. Ou sair com os amigos, que hoje, apenas reconheço pelo orkut. Nos meus papos estavam as provas da Unb, UFG, UFBA, onde pretendia fazer Direito ou Jornalismo. Naquela época, tinha um pouco de vergonha de dizer que queria ser jornalista. Meus parentes, principalmente o meu avô (já falecido) dissera sempre para cursar o tal do Direito. Decidi seguir o que realmente eu queria!!

Hoje, depois de formado, devidamente empregado, tento saber o real motivo que me fez seguir esta profissão. Talvez para mim, o Jornalismo possa ser uma arma para atacar a minha timidez, que impediria, caso seguisse outra profissão, de conhecer pessoas, com ideais diferenciados, sejam bonitas ou feias, carrancudas ou sorridentes, interessantes ou ingênuas. Passearia, ao mesmo tempo, nos mais diferentes lugares, sejam os barracões dos pobres, ou nos salões dos ricos. Colocaria-me em situações conflitantes.

Só com o Jornalismo a minha curiosidade seria saciada. Iria conhecer, viajar, discutir as mais variadas polêmicas com os colegas, e posteriormente, amigos de profissão. Era com o tal do Jornalismo que poderia me encontrar psicologicamente com a experiência acumulada com os anos de redação, acumulando histórias e experiências alheias.

No fim da linha, uma casa na praia. Ou, então, no aconchego do lar, com o calor inebriante de Barreiras, em frente ao rio de ondas. Há também a escolha do riachinho da minha infância, onde aprendi a desbravar o medo da água, dos bichos, as longas distâncias percorridas para encontrar a próxima aventura. Mesmo que a aventura fosse ficar o maior tempo possível debaixo d´água, sem respirar.

Trilhas: Divagações acerca da profissão

quarta-feira, agosto 16, 2006

Ritos de Passagem

As nuvens cobriam grande parte do centro da cidade. O clima abafado obriga os pássaros se locomoverem rapidamente. Ao passarem pela cruz, situada no alto da Catedral São João Batista, os sinos já badalavam em um ritmo forte, sem nenhuma parada ou alternância. Os passos das pessoas que acompanhavam o cortejo traduziam a pressa da última viagem. Os degraus eram os últimos desafios, sempre respaldados por quatro mãos, que carregavam de forma cautelosa o caixão.

O silêncio rompido pela entrada torrencial trouxe à igreja um ar pesado. Junto de familiares e amigos, entrava Edgard de Freitas Regis (1920-2006). Parou no centro, entre o altar e as cadeiras. Jesus Cristo crucificado em cima, o seu corpo embalsamado no meio, e a união de todos em prol de um único sentimento: o pesar. Não houve tempo de lutar contra o câncer, que deixara o pulmão, passara pelo baço, fígado e rins. As dores das duas últimas semanas reforçaram o seu heroísmo diante da vida, lembrado nas conversas consoladoras entre os parentes.

As orações e canções misturavam-se aos choros contidos, às lágrimas insistentes, rostos cabisbaixos e um certo caráter de reprovação contra o inevitável. “Edgar era um homem alegre, gostava de muita alegria, desta forma deve ser lembrado”, recordavam durante a missa. Difícil era a alegria em um momento como aquele, mesmo para um dono de um bar, sempre rodeado de alegres amigos, unidos pelo copo de cerveja, música ao vivo emitida pelo som do seu violão. A música composta para o próprio enterro não ecoava na catedral, mas sim as melancólicas e uniformizadas badaladas dos sinos da São João Batista.

Trilha: Entrada da Catedral São João Batista, juntamente com as saudades do tempo perdido

quinta-feira, agosto 10, 2006

Sonho que é sonho, precisa ser concretizado


O sol e o tempo abafado não davam trégua. Ao contrário da maioria das casas do Assentamento Varjão, localizado na Cidade de Goiás, a casa de Elza da Conceição Silva dos Santos localiza-se bem pertinho da rodovia. Podíamos ver até as paredes brancas ao redor das plantações de banana, abóbora, mandioca e pimenta, além de um vasto terreno, quando ainda abríamos a porteira. O sorriso da Dona Elza (impossível não chamá-la assim) vem como um convite ao abrigo do sol escaldante. Na sala, os dois sofás fazem par com a estante, repleta de porta-retratos. As fotos da senhora de 59 anos e do seu esposo José Moreira dos Santos, 49, já amareladas pelo tempo, contam um pouco a história do casal. A pequena estante também sustenta uma televisão, de modelo bem antigo.

Espalhadas pela sala, mais fotografias, também corroídas pelo tempo, assim como as paredes que a sustentam. O cômodo, que inicialmente servira como uma trégua ao castigo do meio-dia, foi trocado rapidamente pela cozinha, onde havia água à vontade para os visitantes. Da água, os olhos fixaram-se mesmo foram nos mais variados potes de pimenta, que Dona Elza guarda em cima do armário. Todos emergidos em água salobra, para evitar que se perdessem. Presa em seus sonhos, assim como as pimentas que conserva, estava a vontade de começar o cultivo da mais forte delas, a pimenta malagueta. "Isto ficou me pertubando por um longo tempo. Toda vez uma moça bonita, vestida de roupa branca, vinha em meu sonho para me oferecer uma pimenta malagueta", recorda-se.

Para mostrar a concretização deste sonho, Dona Elza não se incomoda com o sol do meio dia. Com os pés no chão, ávida para mostrar o seu xodó, pôs-se a andar com pressa até o lugar onde estão plantados os seus 256 pés de pimenta malagueta. Graças ao "sonho" de Dona Elza, outras 150 famílias em dez projetos de assentamento espalhados pelo estado também a cultivam em seus quintáis. Ainda na entrada da casa da Dona Elza, brinquei. - Fiquei sabendo que a senhora foi a idealizadora do projeto Pimenta? - Estas meninas são "marvadas", brincou, ao mesmo tempo que olhava rindo para Roberta e Rosely, as engenheiras agronômas do Sebrae que prestam assistência técnica ao acampamento Varjão.

Chegando perto das pimenteiras, Dona Elza faz questão de mostrar a planta com o maior rendimento. "Esta terra é abençoada", diz, levantando poeira, ao arrastar os seus pés no chão. Terra em que Dona Elza e o esposo esperaram de oito a nove meses para chamar de sua, até sair o registro da desapropriação. Sem muitos pertences e com o coração abatido por uma cirurgia, Dona Elza chegou com o marido à noitinha, quando montaram as barracas perto da estrada. "Estava empregado na cidade, quando o proprietário da fazenda contratou algumas pessoas para ficarem no terreno. Não teve nenhum problema, inclusive a gente podia trabalhar na terra em alguma clareira da fazenda, conta José Moreira. Depois da desapropriação da fazenda, em 1997, o momento mais importante para os dois: a escolha dos lotes. "Na hora eu disse que ficaríamos no mesmo lugar, não sairíamos dali. Todos começaram a rir e a brincar. Até quando foi sorteado o número um" relembra. "Depois disso, disse que poderiam sair dali. Aquela terra era minha", diverte-se.

Mais do que concretizar o seu sonho, nesta terra, Dona Elza transformou a realidade dos assentados rurais do estado de Goiás. Realmente foi de Dona Elza a idéia de implantar o Projeto Pimenta. Roberta e Rosely apresentaram a idéia aos coordenadores do Sebrae-GO. "Sempre quando chegávamos aqui, Dona Elza perguntava sobre o projeto das pimentas", acrescenta Roberta. O Sebrae o Incra distribui este ano, com a implantação do projeto, mudas a baixo custo. Um Kit composto de 256 mudas, inseticidas e adubos, que custa R$ 70, saiu por R$ 30,00 para o pequeno produtor. Dentro de seis meses, cada família deve receber R$ 250 por mês, com a venda do produto, já garantida, para uma empresa de São Paulo. "Só não sabia que tinha sido de um sonho", adverte Roberta. Nem eu acreditei. No exato momento que perguntei, "sonho" era apenas uma vontade enorme de se realizar alguma coisa. Com Dona Elza aprendi, que "sonho" que é sonho, precisa ser buscado e concretizado.

Trilhas: Assentamento Varjão, na Cidade de Goiás; Sonhos de Dona Elza
Crédito da foto: João Faria

terça-feira, agosto 08, 2006

Entre a Paulista e a Consolação

Uma larga avenida. Parecia infinita. De longe, os prédios se confundiam entrelaçados. De perto, eram únicos. Com uma estética diferenciada. Na selva de pedra, como formigas, as pessoas se debatem, sem nem se conhecerem. Nem os nomes, crenças, ideologias, nada, quiça as histórias mais que supreendentes dessa jornada, que é a vida. Em um domingo qualquer, na Paulista contada em verso e prosa, um desfile do novo e do velho, do que passa e do que fica.

Os olhos não conseguem diferenciar. Não sei se olho para baixo, para cima, ou para os lados. "Não pára a fila não", diz Pollyana, meio que tentando não tropeçar em mim. Continuei em frente, com uma sensação de fazer parte do mundo, ser mais um na multidão, no mosaico de diferentes culturas. O bar, praticamente em frente ao Masp, tenta quebrar o gelo da avenida. A feirinha, ao lado, quer fazer-nos sentir em casa, com tortas, salgados, roupas tão artesanais como aquelas costuradas épocas antes.

O cuidado agora é para não pisar nos pés que andam apressados à frente. Nada fácil seguir o mesmo ritmo. Tento parecer despreocupado, com um ar de quem anda ouvindo apenas uma música na cabeça. Mas impossível não olhar os diferentes estilos de cabelos, roupas, calçados, modo de andar, de interagir. Alguns extravagantes, outros chocantes, recatados, ousados ou particularmente inebriantes.

Agora sim, no fim da Paulista. Pego-me em desespero. Olho para trás subitamente. Paro para observar a extensão da avenida, da grandiosidade das suas estruturas. Outdoors de publicidade, letreiros, avisos, nomes de prédio. Queria que tudo estivesse em minha memória. Relaxo. Passo a andar novamente. Na minha frente, parcialmente esquecidos, Eduardo, Francila e Pollyana andam rápidos para atravessar o sinal. Corro atrás deles, antes do verde farol fechar-se para mim. Uma última olhada. A Consolação? Esta que vem à frente, compartilhada com aquilo que realmente fica neste trajeto à la paulista: a amizade.

Trilha: Avenida Paulista, em São Paulo