domingo, agosto 20, 2006

Entre o sonho e a realidade


- Que dia decidiu ser jornalista?, perguntam.
- Não sei!! Talvez vendo algum jornalista conversando com uma celebridade, alguma série de reportagens especiais que denunciava a fome na Etiópia. Há também aqueles que se arriscam as suas próprias vidas nas guerras, ou embaixo de um bendito muro que caiu. Talvez eu queira uma profissão sem rotina, sem marasmos, e que ajude muito as pessoas (olha a pretensão!!). Eu também queria viajar muito pelo mundo.

Como é ser jornalista?
É uma profissão técnica, no que diz respeito ao dia-a-dia burocrático de burilar as informações, e principalmente em sua checagem. No final, precisa-se descobrir o que é mais relevante. Colocá-las em ordem de importância. A linguagem não pode ser complicada. É para o maior número de pessoas ler. Resolvem-se alguns pepinos com fotógrafos, diagramadores. O editor checa. E pronto! Lá está a página com a sua matéria assinada. Dependendo do processo da empresa, isto pode ser feito em até uma hora. Qual a garantia de que as pessoas lerão estas informações? Nenhuma, talvez.

A primeira resposta era de uma auto-entrevista, enquanto perambulava com a minha bicicleta pelas ruas e vielas de Barreiras, aos 16 anos de idade. Naquela época, era cursinho à noite, inglês à tarde, escola de manhã. No fim de semana, algum vídeo de locadora para descontrair. Ou sair com os amigos, que hoje, apenas reconheço pelo orkut. Nos meus papos estavam as provas da Unb, UFG, UFBA, onde pretendia fazer Direito ou Jornalismo. Naquela época, tinha um pouco de vergonha de dizer que queria ser jornalista. Meus parentes, principalmente o meu avô (já falecido) dissera sempre para cursar o tal do Direito. Decidi seguir o que realmente eu queria!!

Hoje, depois de formado, devidamente empregado, tento saber o real motivo que me fez seguir esta profissão. Talvez para mim, o Jornalismo possa ser uma arma para atacar a minha timidez, que impediria, caso seguisse outra profissão, de conhecer pessoas, com ideais diferenciados, sejam bonitas ou feias, carrancudas ou sorridentes, interessantes ou ingênuas. Passearia, ao mesmo tempo, nos mais diferentes lugares, sejam os barracões dos pobres, ou nos salões dos ricos. Colocaria-me em situações conflitantes.

Só com o Jornalismo a minha curiosidade seria saciada. Iria conhecer, viajar, discutir as mais variadas polêmicas com os colegas, e posteriormente, amigos de profissão. Era com o tal do Jornalismo que poderia me encontrar psicologicamente com a experiência acumulada com os anos de redação, acumulando histórias e experiências alheias.

No fim da linha, uma casa na praia. Ou, então, no aconchego do lar, com o calor inebriante de Barreiras, em frente ao rio de ondas. Há também a escolha do riachinho da minha infância, onde aprendi a desbravar o medo da água, dos bichos, as longas distâncias percorridas para encontrar a próxima aventura. Mesmo que a aventura fosse ficar o maior tempo possível debaixo d´água, sem respirar.

Trilhas: Divagações acerca da profissão

10 comentários:

Anônimo disse...

Nossa, Hebertito, só agora lendo o que vc escreveu é que me lembrei pq um dia quis ser jornalista. Acho que o desejo maior era de viver muitas coisas que numa vida "normal" apenas não poderia experimetar. Hoje a gente percebe que a profissão não pode nos oferecer tudo isso, mas ainda acredito que é a que mais aproxima desse nosso ideal. Saudade de vc! Ah! E seu livro tá adorando o Rio..hehehe. Beijos!

Anônimo disse...

E aí, Hebert! É uma boa surpresa te ver blogando. Assim, de uma forma ou de outra, eu vou mantendo contato com os amigos da faculdade. No mais, achei muito legal o seu estilo de blog. Abração!

Ana disse...

Ê Hebert... Você me lembrou que tenho um texto pra fazer, como tenho te atrapalhado com isso.

Lembrei de um detalhe, fundamental... Viajar!!! Alguns elementos nos dão subsidios para relembrar coisas que a falta de tempo e desencanto com outras nos deixou a muito perdidos ou melhor esquecidos.

Camila Mitye disse...

Oi Hebert!
Agora mesmo tava falando com a Ana sobre o tal desse texto aí, e ela me disse pra ler o seu...ficou muito legal o seu texto! Muito intimista sabe, despretensioso...o tema difícil esse né? Foi o q eu disse a ela, o meu eu apaguei 200 vezes até q mandei logo, senao eu nunca ia escolher algum!

Abraços!

Did disse...

Engraçado vc falar sobre isso! e de uma maneira totalmente diferente da que se passa na minha cabeça. Acho muito legal como todos somos diferentes, como perder a timidez pra vc é importante e como eu acho que o jornalismo me fez descobrir que eu sou tímida... sempre amei estar em contato com as pessoas... mas detesto isso no jornalismo, paradoxal, não???? :p

Anônimo disse...

Quanta poesia e delicadeza! Que texto legal, que foto fantástica! Esses dias, semana passada, acho, estava a refletir sobre o jornalismo com outro amigo jornalista. A conclusão a que chegamos é que não somos jornalistas. E comemoramos por isso, ao final. Na verdade, usamos o jornalismo como escudo. Bem assim, como você falou... Vanglorie-se se não se considera um jornalista clássico. E como disse meu amigo Karam, "eu queria me dar ao luxo de conversar com alguém apenas por conversar e esquecer a conversa cinco minutos depois". É.. às vezes, é preciso se despir da roupa de jornalista. Desse jornalista-máquina. Jornalista-andróide. Factóide. Puro e simples. Viver ainda vale mais a pena... Lembre-se disso. Viver é tentar, errar, sofrer, angustiar-se, voltar a trás, esbravejar, chorar, cair, levantar-se, refletir, comemorar...
Beijo, rapaz!
Luci

Fellipe Fernandes disse...

Dá-lhe Hebert!

Renato disse...

Velho, vc ainda insiste na teoria de que é tímido?????? srsrsrsr

acho que todos nós, jornalistas, nos fazemos a mesma pergunta: por que o jornalismo?? suas idéias ficaram massa. Também estou pensando sobre o assunto...hehe

ah, blog tá muito bonito. parabens!
abçoo!!

Rainer Sousa disse...

Divagações.

Muito bom saber como podemos ser feliz com aquilo que gostamos !

Um abraço, baiano !!!

Anônimo disse...

Ainda tenho que me acostumar à idéia de que você tem um blogger... Vou colocar seu link no meu... Realmente, Hebertito, você escreve maravilhosamente bem... Pq ser jornalista? Pq somos um pouco loucos, atarantados, incompreendidos, melodramáticos, contestadores, chatos... Ah, e porque não gostamos de perder tempo, então procuramos por uma profissão onde brigamos com ele o tempo todo. Estou com saudades de você! Mas semana que vem a gente se vê... Nada de programar o feriado sem me incluir. Chego em Gyn no dia 7... Bjão!