sexta-feira, maio 18, 2007

O show precisa continuar

Às vezes, bate aquela louca paranóia. Eu poderia agir desta forma, ou deste jeito, neste exato momento? Esta seria a melhor hora de brigar, ou de ficar calado? As cenas começam a desencadear lentamente, como uma previsão de um futuro, que nunca vai acontecer. Não daquela maneira. Com aquelas mesmas palavras, sorrisos, expressões faciais. Talvez seria melhor chegar lá, e falar de forma mais ríspida. Ou então, bater o pé no chão, esticar o dede, em riste, dizer uma frase de efeito, e ir embora.

Assim como um dramalhão mexicano, com aquelas pessoas bonitas, vestidas com cores fortes, e com as vozes empostadas dos dubladores brasileiros. Às vezes, com a fina ironia, e com a alegria de Almodóvar, como a cena em que Penélope Cruz enterra o companheiro, em “Volver”, como uma heroína, que precisa fazer o necessário, sem mesmo pestanejar. Ou ainda como o Dr. House, da série norte-americana , uma metralhadora de frases de efeito, sustentada pela sua bengala, mas sempre com ações medidas para tentar esconder os verdadeiros sentimentos.

A realidade carrega um outro encanto. Não tem trilha sonora. A roupa, muitas vezes, desapropriada para a ocasião. A voz embarga, no momento em que o personagem deveria falar bravo. A câmara não se aproxima enquanto o seu olho começa a marejar. Na saída, para terminar a deficiência de toda a cena, o ator esquece a fala, no momento mais importante, e fica ali, parado, esperando alguém soprar o texto. Tarde demais. O diretor, lá em cima, parece dizer, agora é no improviso. E assim, as coisas funcionam. Como um eterno ensaio, com um texto complexo, personagens verossímeis, com falas chatas e intermináveis. Ah!! Os cacos também são permitidos. E durante toda a temporada, o texto muda, assim como a conveniência e o humor dos atores. Estes, adoecem, ou precisam tirar férias. E assim, tudo mudo. O tempo todo.

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