sábado, maio 10, 2008

Ao lado daquela canção

Nunca desci a serra pela estrada de Santos, mas era como se lá estivesse. No meu carro, poderia ser um mustang amarelo, ou um corvetti azul marinho. Os braços estão para a janela. Gel no cabelo, óculos escuros, escolho a música pelo dial do rádio. Um ruído até a melhor freqüência, e lá estou eu, ouvindo Roberto Carlos, e descendo a estrada de Santos. Ao meu lado, como companhia, inseparável, pela completude do pensamento, ouvindo a música, balançando a cabeça, está minha mãe.


O encarte do CD em mãos, acompanhando a letra, ela me vê entrar pela sala, e revivo uma atmosfera que só apreendi no cinema e em livros. “Se você pretende saber quem eu sou, eu posso lhe dizer”. Era domingo pela manhã, por volta das 10h. No automático, ligaria a televisão, mas preferi, continuar naquela vida em preto e branco, onde o tempo anda devagar, e que o ritmo da jovem guarda faz entender um pouco da personalidade da minha mãe. Algo imcompreensível, é verdade.

Sento-me ao seu lado. Ela está com aquela camisola dos dias de domingo. Branca, com alguns desenhos em azuis. O cabelo em coque, preso em grampos, e com um sorriso, que mostra a experiência e as suas vivências. Abraço-lhe. Sinto o calor do beijo, e o frio no estômago, da camisola molhada. Ela me mostra o encarte, e cantarolamos juntos.


“Só ando sozinho. E no meu caminho o tempo é cada vez menor. Preciso de ajuda. Por favor me acuda. Eu vivo muito só”. Em nossa solidão, em que cada um vive à sua maneira, eu e ela naquele momento nos tornamos único, uma energia que me acompanha, não pelo simples fato de ser mãe, mas pelo simples de fato dali, naquele espaço e naquela canção, e naqueles dois corações, existir um amor, incondicional em sua essência. “Se acaso numa curva eu me lembro do meu mundo. Eu piso mais fundo. Corrijo num segundo. Não posso parar”.

Não é aquele amor que cobra presença, afagos, ou presentes. É aquele amor verdadeiro, de quem sente que o que quer que aconteça, estaremos ali, um ao lado do outro, cantando uma canção única. Se, por um acaso eu esquecer quem eu sou, ali estará ela, sempre a me lembrar, que sou especial, insubstituível.

No mundo lá fora, longe desta sala, e da nossa cantoria de domingo pela manhã, posso ser vários, e me transformar em muitos outros. Mas aqui nesta sala, ao seu lado, cantando, assistindo à tv deitado ao seu colo, ou mesmo nos muitos abraços apertados pelos dias à fora, relembro que posso voltar a ser quem sou. “As curvas se acabam. E na estrada de Santos não vou mais passar. Não vou mais passar”.

5 comentários:

Maria Cristina disse...

Seu bobo, me fez chorar, hunf... e eu aqui longe de minha mamãe... bjocas e saudade docê!

Eduardo Sartorato disse...

Belíssimo texto, rapaz!! Parabéns!!

Unknown disse...

ainda nao tinha conseguido ler seus textos!!!parab�ns eh uma pena que nao me tornei sua aluna..bjss

Helen Fernanda disse...

A “gente” inventô um “negocim” chamado “BloGYN”, que é “pra mode us bloguêro goianim”, principalmente da “capitar”, interagir tanto na web quanto na vida “rear”.

Para começar a participar, basta na seguinte página entrar: http://groups.google.com/group/blogyn

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Solicite participar que eu vou te adicionar. Se preferir, pode configurar para não receber “mensagi pur i-meiu” e olhar só na “uébi”. Se não quiser seu bloGYN pessoal espalhar, pode outro blog divulgar.

Acho que essa semana já tem encontro do “pessoar”.

Cansei de rimar e de “r” puxar, vou encerrar.

Anônimo disse...

Roberto é um caso mal resolvido que tenho... e seu texto me fez rememorar muito dessa história...
ele é capaz de suscitar coisas assim, ou melhor, ele é capaz de fazer perceber que, pela música, a gente é bem menor do que acreditamos ser e bem maior do que jamais ousariamos pensar, porque ele é direto, simples. Como você foi nesse seu texto.
Tentei devolver a gentileza do seu último recado no orkut, mas eles ainda continuam brigados...rs
saudades tb. Abraço.