segunda-feira, setembro 04, 2006

De mãos atadas


Maria, Marleuza, Marlene. Apesar da aparência dos nomes, estas mulheres não se conhecem. Talvez nunca passaram nem mesmo os olhos umas sobre as outras. Mal sabem que entre elas há um laço forte. Em seus olhares perdidos e vozes embargadas, não conseguem explicar como os filhos desapareceram. Elas tentam, procuram explicações, como se eu pudesse de fato ajudá-las. Neste caso, não passo de um bom ouvido, nada conselheiro.

Maria das Graças procura ainda esperançosa o adolescente Murilo Soares Rodrigues, de 12 anos, desaparecido desde o dia 24 de abril de 2005. Ele estava junto com o servente de pedreiro Paulo Sérgio Pereira Rodrigues, 21, quando, segundo testemunhas, foi abordado por policiais militares da Rotam, na Vila Brasília, em Aparecida de Goiânia. A partir de então não foram mais vistos. Depois de um ano de desaparecimento, ela ainda continua a sua luta para encontrar Murilo, mesmo com a dor que a faz visitar regularmente psicólogos e tomar anti-depressivos.

Marleuza soube que durante os 40 dias que esteve desaparecido, W.R. perambulou pelas ruas do bairro Vera Cruz 2. O adolescente passou fome e fugiu sempre de qualquer um que ousasse a procurá-lo. A mãe, Marleuza, sofria com a insegurança de não saber onde o filho estava. Ela ainda se angustia ao tentar entender o comportamento do adolescente de 12 anos, que em dois anos já fugiu duas vezes. Depois de encontrado, W.R. argumentou sofrer maus tratos dos familiares, mas sem especificar o agressor.

Marlene simplesmente não entende o que aconteceu. Sua filha, a adolescente C.B.R, prestes a completar 17 anos, desapareceu de casa no dia 18 de julho, no Bairro da Vitória em Goiânia. No dia da fuga, ela vendeu uma mesa e alguns tapetes, que renderam em torno de R$ 150. Às quatro horas saiu com uma mochila, onde colocou três conjuntos de roupa. Ela disse que ia para Itaberaí, passar um tempo na casa do pai, Closimar Ribeiro dos Santos, com quem já morou alguns anos, logo depois da separação dos pais. Marlene descobriu que a adolescente não chegou ao seu destino.

Na tentativa de relatar o drama e o sofrimento destas lutadoras, as trilhas foram as mais diferentes. Da impotência, passando à superficialidade dos relatos diante da magnitude dos sofrimentos. Termino com a consciência de que nos casos de desaparecimento nem tudo é o que é. Senti-me com as mãos atadas. Além da frustração de saber que a esperança dessas mulheres recaíram sobre mim, por um minuto, sem que eu pudesse fazer absolutamente nada.

Trilhas: Bairro da Vitória e Cidade Jardim, em Goiânia
Foto: Maria das Graças, com a foto de Murilo Rodrigues
Crédito: Michel Capel

5 comentários:

Ana disse...

As pessoas fogem e outras desaparecem, não simbolicamente e sim de verdade. É muito triste falar com alguém que ainda tenha esperança de reencontrar um filho, um marido, uma mãe, quando todas as evidências apontam para que esse ente querido tenha morrido. MAs, sem comprovação da morte a esperança continua até o ultimo dia de vida.
Nessas histórias as piores são as que possuem esperança no vázio.

Did disse...

É muito triste, né? A gente se sente tão impotente diante essas mazelas, tão fraco... é muito estranho. Para alguns, a vida é muito triste... acho que temos que agradecer todos os dias pelas nossas oportunidades.

Bjao
Did

Fellipe Fernandes disse...

Apesar da tristeza já detectada, tenho que dizer: esse curso tem feito um bem danado a vcs! e a nós tb, que sempre lemos coisas boas! Agora: que história é essa de me elogiar??? kkkkkkk nem conheço esse Hebert! rs Abração, velho!

Rainer Sousa disse...

Essas são histórias complexas de um mundo cheio de problemas. A tristeza dessas mulheres pode ser fruto de contexto variados.

A perda que sentem, encobre um emaranhado de relações conflituosoas, condições materiais difíceis e uma tristeza inexplicável.

Anônimo disse...

coitada dessa mae,graça que nao sabe onde esta seu filho,procurar ajuda de quem,se a segurança que sumiu com o filho dela...nossa meu DEUS que angustia...