sexta-feira, novembro 03, 2006

Tempo x Espaço = Indiferença

Asfixiado com uma sensação de cansaço. Parece físico. Em outras horas, parece que não se quer nem pensar, refletir, olhar. Uma inanição que nem mesmo a mais forte droga pode conter. Como uma máquina, primeiro o pé direito, depois o esquerdo. Os braços ajudam no equilíbrio. Pronto. Está em pé. Passos apertados na tentativa de derrotar o tempo. Este implacável, ri à toa, com a brincadeira que ele mesmo criou. Para vencê-lo, só mesmo de forma robótica.

Os olhares perdidos, não querem se entrecruzar. Se dirigem para a rua, chão, parede. Mas basta que em uma fração de segundos o olhar se encontro com o outro para que se perceba o inevitável. Não estamos sozinhos. Mas o piloto automático logo se dá conta da besteira que fez. Volta-se novamente o olhar para o longínquo, o distante, o infinito. Sem perceber que o infinito também se compõe do tocar, cheirar, sorrir, se afeiçoar.

“Só amamos o que conhecemos”. Vencida a barreira do tempo e espaço com as tecnologias. Agora é descobrir o que se faz com isto. Já que o tempo sempre frustra, com a sua falta; enquanto o espaço nos deprime com o imponderável sonho de conhecer cada cantinho deste mundo. Apesar do avanço da tecnologia, que poderá nos levar à Lua, Júpiter, ou Saturno, falta um preparo para lidar com todas estas possibilidades.

Um preparo que só teremos com uma experiência e de uma reflexão insistente e antiga. “Afinal, qual a nossa missão na vida?”. Enquanto isto, saltamos os mendigos das ruas. Tapamos os ouvidos com os nossos “i pod´s”, para não escutar os desagradáveis choros emitidos por quem não tem o que comer. Desviamos o olhar, nem que sejam para as paredes, para não ver as feridas do mundo.

Durante o programa Fantástico, o psicanalista e filósofo Jurandir Freire Costa citou três tipos de indiferença da nossa sociedade. O primeiro – mais comum – das elites em relação aos pobres, que são vistos como “coisas”, não como pessoas. A explosão da violência urbana resulta do segundo tipo de indiferença, infere ele, a dos excluídos em relação às elites. A terceira é da própria elite, em relação a elas mesmas. Daí o consumo dos diversos tipos de drogas, com o consumo de tranqüilizantes, antidepressivos, cocaína, entre outros.

Com tudo isto, como julgar a indiferença de turistas estrangeiros que tiram fotos na Praia Vermelha no Rio de Janeiro sem se importar com um corpo de um morto jogado no calçadão? Pelo que se vê, é preciso mais do que encurtar as barreiras de espaço e tempo. É preciso encurtar as relações sociais, ao evidenciar as diferentes realidades e a universalidade de sentimentos considerados universais. Afinal, ainda temos muito o que aprender com o outro, com o diferente.

Trilha: Em qualquer lugar se que vá

Um comentário:

Anônimo disse...

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