Tento
entrelaçar dois laços que a primeira vista não se
relacionam. O primeiro vem da data que lembra a Consciência Negra,
comemorado hoje (20 de novembro) em todo o Brasil. O segundo é do
assassinato com motivação homofóbica do jornalista goiano em uma
praia próximo à capital Recife, em Pernambuco, no último fim de semana. Embora sejam
diferentes em seu cerne - a raça e a orientação sexual - um
componente parece vir à tona quando tratamos destes dois temas: o
preconceito ao diferente!
Onde diz que as pessoas precisam vir iguais como em uma produção
em série como produtos capitalistas com rótulos e manuais.
A tendência à padronização nos leva a criticar o diferente. Sabe
por quê?! O diferente é estranho. Não é identificável. O
capitalismo não consegue encaixar pessoas assim em um grupo e tornar
estes gostos rentáveis. O próprio sistema monta uma série de
níveis hierarquizados onde precisamos nos encaixar ou nos ajustar.
E o drama
de quem não consegue ou não se identifica com os padrões
estabelecidos? Passo a largo dos dramas psicológicos e pessoais,
por causa da dificuldade de medir, mas analiso e recrimino
qualquer atitude de quem esteriotipa e agride verbal ou físicamente para
calar o diferente. E o pior, calar o diferente em sua essência, como no
gênero, raça, cor e orientação sexual. Não é algo que se muda
tão fácil quanto se compra um novo sapato e joga o antigo no lixo.
Zumbi dos Palmares levou os negros à uma libertação
física, mas os negros lutam até hoje para competir com igualdade no
mercado de trabalho, para assumir o cabelo e a própria identificação como afrodescente. Já o assassinato de Lucas Fortuna,
que sempre lutou nos bastidores pela igualdade e contra o
preconceito, como comprova os seus trabalhos na fundação da Colcha
de Retalhos e como diretor de instituições ligadas à criminalização da homofobia. Lutar contra o padrão pré-estabelecido é difícil. Mais ainda é lutar pela liberdade de ser o que quiser e o que se pode ser.
Só espero que no futuro não precisemos mais de dias específicos para valorizar o diferente, tampouco precisar velar por aqueles que lutam pela possibilidade de ser diferente. Até porque, ser diferente incomoda não é, que o digam Zumbi dos Palmares e Lucas Fortuna.